domingo, 9 de julho de 2017

Ora, quando é que olhamos pra dentro de nós sem tomar um susto?!

O processo de gestação é uma condição da existência. Tudo é gestado, quem sabe até as coisas imediatas! Nós, por exemplo, nascemos e continuamos numa gestação do “ser quem somos”, aonde vamos conhecendo nosso interior e nos surpreendendo com nossa formação. Quando eu penso nas diversas formas de gestação, desde a de uma flor, o macho do cavalo-marinho que carrega os seus filhotes no ventre e até a solidificação da água para se tornar gelo, sempre fico abismada. Mesmo não sendo a primeira vez que a gente acompanhe ou vivencie esse fenômeno da natureza, o mistério do fruto e seus efeitos sempre nos deixa impotentes.
Essa semana uma grande amiga me contou uma novidade: ESTOU GRÁVIDA!
A alegria tomou conta da nossa conversa e nos falamos através de mensagens euforicamente por alguns minutos, talvez horas, quando ela me contou que apesar de estar muito feliz, também estava com medo e estranhou esse misto de sentimentos… “Que loucura!”, disse ela.
Mas como não ter medo diante do que não podemos controlar? Como não ter medo diante dos “9 meses” de surpresas que estão só começando, sem sabermos como será o caminhar das coisas?
Ela deseja demais esse bebê, sofreu com os testes de gravidez negativos antes de chegar o positivo; ela estava realmente feliz. Mas, o sentimento amedrontador que vem diante do mistério da vida que se inicia dentro de você é quase incontrolável.
Então, tento me imaginar no lugar daquela mulher que não planejou, que não passou noites pensando no bebê tão esperado, que não se imaginou com uma grande barriga que é tocada até por pessoas estranhas… como se sente essa futura mãe quando se vê sendo envolvida pelo medo que trás uma gestação que se inicia? É muito raro que isso não aconteça com alguma mulher, mesmo que de maneiras e durações diferentes.
Além de precisar dar conta dos sentimentos que já vêm naturalmente, ela ainda precisa saber driblar o sentimento de culpa que todos despejam sobre ela ao dar parabéns pela gravidez. As pessoas se sentem na obrigação de parabenizar e tentar mostrá-la que é algo maravilhoso que está acontecendo com ela e que bebês são sempre um presente. Jogamos sobre as mulheres a obrigação da felicidade imediata e isso trás mais sentimentos opostos, como: se eu estou com medo ou triste com a notícia de que vou ter um bebê, jamais serei uma boa mãe!
Aprendi que, ao receber uma notícia como esta, devo perguntar “e como você está se sentindo?”. Abordando dessa maneira, podemos trazer a futura mãe dos sentimentos que perturbam (que são reais, normais e até hormonais) para a compreensão do seu momento e entender que essa também é uma das diversas fases da gestação, que são intensas, mas não eternas, e que não obedecem a uma ordem de acontecimentos igual para todas as mulheres.
Afinal, não é apenas o bebê que está em gestação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário